quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010

Viktor E. Frankl – Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração
domingo, 14 de novembro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
DOR PROFUNDA
Nações baseadas na tão afamada “democracia” não vêem que perpetuam, através da repetição de atitudes androcêntricas e heteronormativas, a dor e o sofrimento em seus cidadãos. Evidenciando extrema contraditoriedade, suas leis clamam que “todos os cidadãos são iguais”; enquanto que sua cultura diferencia enfaticamente homens de mulheres e marginaliza aqueles que transitam entre os sexos. Qual a vantagem de uma mulher em “ter direitos” se não pode andar na rua em paz sem ouvir algum comentário atroz sobre seu corpo? De que adianta os homens reclamarem de “mulheres fúteis e superficiais” se são eles mesmos quem ridicularizam as feministas e não conseguem sustentar uma conversa com as inteligentes? Do que vale as mulheres estudarem tanto se suas idéias e ações serão depreciadas no ambiente de trabalho pelo simples fato de serem do sexo feminino? Que ganho há para um homem em ser um “exemplar pai de família”, sendo que seus apetites e prazeres só se realizam clandestinamente à noite, nos braços de uma travesti?
A história tem mostrado que o homem nunca deixou de ansiar pela igualdade desde que esta garantisse os seus direitos, e somente os seus... Pois na antiga Grécia, berço por excelência da democracia, só era considerado cidadão o homem nascido livre naquelas terras. Isso significava que mulheres, crianças, escravos e estrangeiros não tinham direitos. Mesmo a Revolução Francesa, que teve centenas de mulheres (seus nomes inscritos nas paredes do Panteão de Paris não nos deixam esquecer) lutando e morrendo ao lado de seus companheiros pela extinção das diferenças de classes sociais e visando mais tarde a igualdade entre homens e mulheres, logrou estas últimas. Porque, lembra-nos bem a historiadora Elisabeth Badinter*, uma vez que seus parceiros conseguiram o que queriam, sobraram apenas uns poucos pensadores a defender a causa das mulheres, e mesmo esses foram calados em seguida e os diretos femininos logo esquecidos.
Da mesma forma hoje, em sociedades cujos resquícios de cultura patriarcal ainda são claramente perceptíveis apesar das tentativas infrutíferas de ocultá-los, somente são considerados como tendo real valor os representantes brancos e heterossexuais do sexo masculino. Mulheres, crianças, pessoas de raças as mais variadas e sujeitos de identidade de gênero “confusa” só são reconhecidos cidadãos perante a lei quando seus direitos são exigidos através de longos e, frequentemente, traumáticos processos judiciais.
Quanto mais uma cultura é construída e reproduzida sobre as bases da diferença, mais infelizes são os indivíduos submetidos a ela. Os pais, a escola e a mídia separam tudo e diferenciam o que é “ser menino” do que é “ser menina”: meninas não devem ser moleques, meninos não podem ser sensíveis; meninas usam rosa, meninos usam azul. E assim por diante, levando essa dicotomia artificial e tirana a todas as esferas culturais, fazendo com que outras formas de ser sejam automaticamente punidas e excluídas, não sobrando espaço para a liberdade e a diversidade.
Não é de estranhar que os órgãos responsáveis pela saúde já denunciam que a doença do futuro não será o câncer ou a aids, e sim a depressão. Países que condenam o fanatismo muçulmano ao usar as mulheres como bens de troca entre pais e maridos, não vêem que tratam suas próprias representantes do sexo feminino como objetos quando permitem que veículos midiáticos reforcem e reafirmem a idéia de que as mulheres somente são alguma coisa se tiverem um dono (homem é claro) e que para terem esse dono é necessário se transformar em um objeto tão desejável quanto uma “boneca inflável” - através de intermináveis interferências cirúrgicas - ou um “bichinho de pelúcia cor-de-rosa” infantilizado e imbecilizado. E aquelas que simplesmente não aceitam se sujeitar à imperiosa limitação da condição de objeto são mal vistas e até mesmo perseguidas e marginalizadas, como se fossem aberrações, pelo simples fato de querer lembrar ao mundo que também, e antes de tudo, são humanas!
A heteronormatividade imposta pela cultura patriarcal, aliada ao consumismo estimulado pelo capitalismo, não poupa nem mesmo os homens, pois não cansa de afirmar a seu bom cidadão que ele está e sempre estará errado. Afinal, mesmo que trabalhe sete dias na semana e faça horas extras infindáveis, o infeliz nunca terá dinheiro suficiente para ter tudo o que a sociedade exige de alguém bem sucedido. Mesmo que anseie por se relacionar com uma mulher forte e inteligente, sentir-se-á inferiorizado perante ela porque nunca foi estimulado a ver as mulheres como iguais, e assim acabará por ficar com as frívolas e subservientes, pois estas representam um terreno “mais seguro”. E mesmo que tenha constituído uma família a ser invejada, ainda precisa mostrar a outros homens que é capaz de conquistar mais mulheres para provar que é um verdadeiro macho alfa.
As mulheres, apesar de cansadas da luta diária contra o ranço patriarcal e contra suas iguais alienadas que ainda acreditam na submissão aos homens, estão conquistando cada vez mais espaço e levando consigo as bandeiras de outras minorias. Elas caminham e não dão mostras de que vão parar, quem quiser alcançá-las deve correr! Os homens por outro lado, estão ficando exaustos de ter que desempenhar papéis cada vez mais exigentes e nem sempre compatíveis com seus anseios e necessidades. Alguns dizem admirar as feministas, mas não tem aparato para engendrar uma conversa à altura, o que os faz se sentirem vítimas do feminismo e de suas transformações. Outros não aceitam a emancipação das mulheres e das minorias de jeito nenhum e, por meio das formas mais violentas possíveis, deixam bem claro suas convicções. Isso tudo expõe uma única verdade: o mundo está mudando...
Mas quanta frustração e quanta dor é preciso para que a humanidade acorde do próprio pesadelo que criou e rompa com as muralhas de sua ignorância e falta de visão? Quanto tempo ainda para que todos olhem para si mesmos e para os outros e vejam apenas seres humanos no lugar de diferenças e segregação?
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* BADINTER, Elisabeth. Um é o outro.
domingo, 10 de outubro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
BRILHO
but I wouldn't want them back.
Not with the fire in me now."*
SAMUEL BECKETT
Todos os seres são providos de uma pequena luz, uns a chamam de centelha divina, outros de alma, outros ainda de psique e se nos aprofundamos, perceberemos que existem tantos nomes quanto existem culturas e formas de pensamento no mundo. Para os místicos de todos os tempos, essa luz é como um tesouro especial, nosso por direito, que precisa ser cuidado e polido ao longo da vida para que cresça e se expanda, alumiando dessa maneira nossas mentes e nossas existências.
É ela que nos permite olhar para além de nós mesmos e alcançar as outras pessoas, que nos dá confiança para arriscarmos a fazer sempre o melhor independente da forma como seremos retribuídos e coragem para reconhecer nossos sentimentos, anseios e fraquezas antes de tocarmos as vidas dos outros. Viver conscientemente exige maturidade, responsabilidade e comprometimento, pois quando deixamos de nos colocar no papel de vítimas e assumimos nossos destinos como sendo fruto de nossas ações, permitimos que o fogo de nossas almas se torne intenso e constante.
Com um pouco de atenção é possível perceber a diferença entre aqueles que alimentam esse lúmen e os que nem descobriram possuí-lo. Há uma certa dignidade, uma certa soberania, nas pessoas que cultivam sua alma. Elas tem um fogo vivo - o bem mais valioso do ser humano - ardendo em seus corações, tanto que o escritor irlandês Samuel Beckett afirmou que não trocaria seus anos de juventude pela experiência e transcendência que tal fogo lhe proporcionava. Quem se ocupa em permitir que sua alma viceje não teme o passar do tempo, pois isso não é nada comparado às Bodas entre o Céu e a Terra, ou seja, à sabedoria, ao calor, à vertigem e à doçura do encontro com a própria alma.
“Obscurecer a alma de outro ser é roubar sua luz. Respeito é o oposto do roubo: ele reconhece e fortalece a luz do outro”, diz Caitlín Matthews em seu Livro Celta dos Mortos. Sendo assim, quando dois seres que cultivam o brilho da alma se encontram - sejam eles amigos, parentes ou amantes - há sempre um acréscimo, uma soma. Ambos são beneficiados nesse encontro, porque apesar de sentirem que recebem muito, nenhum tira nada do outro, não há perda. Muito pelo contrário, a alteridade enriquece ao invés de solapar e aniquilar.
Por outro lado, quando sentimos que alguém nos magoou ou nos “roubou a alma”, precisamos antes de tudo entender que tal pessoa não pretendia absolutamente nos fazer mal, sua intenção era acertar. No entanto, pelo fato de nunca ter olhado profundamente para dentro de si mesma a ponto de conhecer sua exata dimensão, agiu da única forma que sabia: fugiu da luminosidade que antes a atraía. Afinal o brilho no outro ecoa em nós e nos faz lembrar, mesmo que inconscientemente, de nossa própria luz. E não existe coisa mais desejosa e perigosa do que a própria luz! Pois quando iluminamos nosso interior não há mais onde nos esconder, não há outra saída a não ser ficarmos cara a cara com nossas fraquezas e inaptidões até o momento em que resolvemos criar coragem para trabalhá-las e transmutá-las.
Segundo o Prof. Phal, citado por Jean-Claude Carrièrre em seu livro Dictionnaire Amoureux: “Para o hinduísmo clássico não existe o mal e sim o erro (...). Uma idéia de erro mais que maldade”. Um erro de percepção faz com que os seres procurem sua luz no outro. Porém, para amadurecer emocionalmente o suficiente a fim de compreender todas as subjetividades e responsabilidades inerentes ao relacionamento humano é preciso antes de tudo entrar em contato com o fogo interior. Só desse modo estaremos prontos para sermos bons companheiros para nós mesmos e para os demais. Somente assim não correremos o risco de “roubar a luz” do outro e é apenas dessa forma que seremos capazes de sempre somar e jamais subtrair.
*"Talvez meus melhores anos tenham ido...
Mas eu não os quero de volta.
Não com o fogo que arde em mim agora."
SAMUEL BECKETT
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
EU PEÇO
Peço às Mórrígu, à Coatlicue, às Kéres, à Freyja, às Deusas da Morte eu peço! Que recolham meus ossos e meu sangue, minha carne e minhas vísceras. Que enterrem tudo fundo, muito fundo, bem fundo na terra! Meus desejos jamais realizados, minha dor profunda, minhas desesperanças, minhas lágrimas derramadas em vão, meus sonhos perdidos, meu coração partido. Que enterrem tudo fundo, muito fundo, bem fundo na terra!
Peço à Żywie, à Brigit, à La Loba, à Mama Quilla, às Deusas da Vida eu peço! Que usem meus despojos para fertilizar a terra escura. Que a molhem com meu suor e minhas lágrimas desiludidas. Que o corpo da Grande Mãe se torne assim fecundo e que permita que nasçam bons sonhos e esperanças, coragem, força
e um novo coração!
Priscila Jacewicz (2010)
terça-feira, 17 de agosto de 2010
SELVAGEM*

O ar gelado da manhã me chama
Meu coração pulsa e anseia
Minha matilha me espera
Vou correr livre com os Lobos!
*Wild
The cold air of the morning calls me
My heart beats and yearns
My pack is waiting for me
I will run free with the Wolves!
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
C. G. Jung - O Livro Vermelho (Liber Novus)
segunda-feira, 12 de julho de 2010
quinta-feira, 8 de julho de 2010
A NOITE DA ALMA
Não há nada a fazer, nada a encontrar
A não ser aquecer-me sozinho.
Queimo meu corpo
Faço luz em volta de mim."
JUKICHI YAGI
Há épocas em que a vida nos impõe limitações, criando impedimentos para qualquer tipo de ação e aparentando não nos deixar uma única saída a não ser nos aquietarmos e ficarmos imóveis, esperando que as coisas no mundo externo mudem e finalmente nos deixem agir.
Todos já passaram por uma limitação imposta pelo tempo ou pelas contingências do momento: a doença de um ente querido, o coração partido pela ausência do ser amado, a insatisfação na vida profissional, a incapacidade de perceber a própria vocação, a necessidade de permitir que os filhos adquiram independência e assim por diante.
Numa sociedade onde a ordem é “fazer acontecer” e “ter atitude”, aquietar a mente e aceitar limitações temporárias parece muito mais uma tortura do que a etapa de um processo natural. Nos esquecemos que os ciclos de vida-morte-vida permeiam a existência e seria muita ingenuidade acreditar que é possível estar sempre no controle dos acontecimentos.
Mas, porque é tão difícil “manter-se imóvel quando chega o momento de se manter imóvel, e avançar quando chega o momento de avançar” como aconselha o I-Ching? Porque sacrificar a vontade nos traz tanto sofrimento? O que nos impede de perceber a hora de parar de lutar e esperar que a transformação aconteça sem a nossa interferência? Como é difícil respeitar o tempo do mundo, o tempo do outro, o espaço sagrado de cada criatura!
Há situações em que a única coisa a fazer é se resignar com a “noite da alma”. De nada adianta permitir que a mente se desespere na busca insana por uma solução que não depende absolutamente de nossas ações e sim de nossa ausência. Fazem-nos acreditar que amar é estar presente e atuante, mas às vezes é exatamente o oposto. Amar pode ser também dar liberdade para que o outro encontre seu lugar e seu tempo, é respeitar a sua capacidade de confiar em si mesmo para chegar às próprias conclusões acerca de seus desafios pessoais. Às vezes amar verdadeiramente é simplesmente se retirar*... Às vezes é necessário fechar os olhos e se entregar à noite da alma, aguardando que a transmutação silenciosa ocorra enquanto nos consumimos a nós mesmos e criamos nada mais que a própria luz.
Mas é difícil, como é difícil...
sábado, 26 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
terça-feira, 8 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Sometimes
I lose myself
My soul turns gray
I refuse the life
I don’t want to stay
I want to fly
To fly away...
Priscila Jacewicz (1990)
sábado, 29 de maio de 2010
I do not know where I am bound.
I journey far across the foam.
I seek my soul – where is it found?
I watch the star to guide me home.
There is an island in the west
Under the sun, over the sea,
I travel far upon my quest.
I seek a guide to pilot me.
A branch of silver in my hand
With crystal bloom and golden fruit
The mother tree grows on the strand
It's there that I shall find my root!
There is an island in the sea,
Where waters flow and food gives life,
Where is no foe, where love is free
I seek the place where is no strife.
I watch the star to guide me home,
I found my soul and spirit's rest,
I traveled far across the foam
There is no ending to my quest.
Caitlin Matthews - The Celtic Book of the Death
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*Cântico Immram
Não sei qual é o meu destino.
Viajo para muito longe das ondas.
Procuro minha alma, onde ela está?
Eu olho a estrela para me guiar de volta.
Há uma ilha no oeste
Sob o sol, sobre o mar,
Viajo para muito longe em minha busca.
Procuro um guia para me conduzir.
Um ramo de prata em minha mão
Com flor de cristal e fruto dourado,
A mãe árvore cresce na praia;
É lá que eu devo encontrar minha raiz.
Há uma ilha no mar,
Onde as águas fluem e o alimento dá a vida,
Onde não há inimigo, onde o amor é livre.
Procuro o lugar onde não há contenda.
Eu olho a estrela para me guiar para casa,
Encontro o repouso da minha alma e meu espírito,
Viajei muito além das ondas.
Não há fim em minha busca.
Caitlin Matthews - O Livro Celta dos Mortos
UM NOVO ECHTRAE
Essa idéia fazia parte do código de conduta do Samurai e ainda assim era preciso uma vida toda de treinamento para absorver seu verdadeiro significado... Mas como aceitar o fim, principalmente quando se trata do fim de algo muito querido e desejado? Como deixar ir o que tem que ir e assumir que é chegada a hora de tomar um outro rumo? E, o mais importante, como terminar um ciclo sem perder-se a si mesmo?
Talvez o ponto chave seja buscar a capacidade de iniciar a nova etapa de dentro para fora, isto é: centrar-se, descobrir o que realmente nos pertence e aquilo que pegamos emprestado ao longo do caminho, reconhecer o próprio valor e separá-lo da loucura alheia. Essa redescoberta de si mesmo encontra eco nas antigas Jornadas Místicas Celtas. Nos Echtrai o herói percorre, segundo a autora Caitlín Mattews, a sua própria “cosmologia interna” e aos poucos e através de desafios vai descobrindo sua verdadeira essência. Se o protagonista respeitar os limites do Outro Mundo e retirar dele apenas aquilo que é seu por direito, será capaz de voltar dos mares interiores vitorioso e pleno em sabedoria.
Para os Celtas, só era possível alcançar Tír na nÓg (a Terra dos Sempre Jovens) ou Mag Mell (a Planície da Alegria), se o empreendedor da viagem ao Outro Mundo fosse capaz de identificar os seres que habitavam suas inúmeras ilhas e de assimilar seus ensinamentos muitas vezes difíceis e cheios de perigos. Em muitas das ilhas, o viajante corria o risco de se perder em encantos e ilusões ou de beber de néctares que o tornariam inconsciente ou que o fariam se deixar ficar. Era impressindível que o herói soubesse reconhecer as dádivas do Outro Mundo e que só tocasse e consumisse aquilo que fora destinado a ele.
Assim ocorre conosco, precisamos percorrer nosso interior para descobrirmos o que realmente é nosso e nos desfazermos daquilo que não nos pertence. Só assim seremos capazes e teremos forças para voltar ao mundo externo e enfrentarmos o dia a dia e os novos obstáculos e ciclos que invariavelmente surgirão em nossas vidas. Como diria o velejador brasileiro, vitorioso de vários Echtrai, Amyr Klink: “Um homem precisa viajar por sua conta. Não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para enteder o que é seu (...)”. Entendendo o que é nosso, não precisaremos mais buscar o que é do outro, teremos o coração leve e o espírito suave, e seremos capazes de iniciar um novo Echtrae, respeitando tudo o que é importante e sagrado em nós e nas outras pessoas. Poderá ocorrer de ficarmos completamente ensopados depois da aventura interior, porém, se conquistarmos a vitória, seremos dignos de caminharmos sob a luz desse mundo também!
terça-feira, 18 de maio de 2010

Had I the heavens’ embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.*
W.B. Yeats (1865–1939) - He Wishes For the Cloths of Heaven
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*Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.
sábado, 1 de maio de 2010
Caster of circles
Mistress of nets
You who inspire
You who require respect
Thine is the blackbird
on a white bone dome
Thine is the cauldron
Mine is immersion
I am the light
I am a sword for protection
Mine is the fight
I am a shield for shelter
The world is my home
I do not lack words*
WHO BUT I? – 2010
(Posted with kind permission of the author)
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*Criadora de círculos
Senhora das redes
Tu que inspiras
Tu que demandas respeito
Teu é o melro
sobre o branco osso côncavo
Teu é o caldeirão
Minha é a imersão
Eu sou a luz
Eu sou uma espada para proteger
Minha é a luta
Eu sou um escudo para abrigar
O mundo é meu lar
Não me faltam palavras
quarta-feira, 21 de abril de 2010
If I came to you, out of the wind
With only my blown dream clothing me,
Would you give me shelter?
For I have nothing
Or nothing the world wants.
I love you: that is all my fortune.
But I know we cannot sail without nets:
I know you cannot be exposed
However soft the wind
Or however small the rain.*
Michael Hartnett (1941-1999) - From Anatomy of a Cliché
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*Ouça,
Se eu chegar até você saído do vento
Vestido apenas com meu sonho soprado,
Você me acolheria?
Pois eu não possuo nada
Ou nada que o mundo queira.
Eu amo você: essa é toda a minha fortuna.
Mas eu sei que nós não podemos velejar sem redes:
Eu sei que você não pode ser exposta
Não importa quão suave seja o vento
Ou quão fraca a chuva.
domingo, 11 de abril de 2010
KOBIETA
Ninguém pode ser mais solitário que uma mulher que se descobre e que tenta por todos os meios se fazer ouvir, pois num mundo cuja cultura é completamente focada no ego masculino, torna-se impossível dar crédito aos movimentos do feminino. As idéias, ideais, necessidades e potencialidades de uma pessoa que não é reconhecida como homem, simplesmente deixam de ter relevância, pois foi condenada a ser um mero objeto desde o dia de seu nascimento. Um objeto a ser adorado, usado e descartado de acordo com as vontades do outro, no caso, o homem.
Em contrapartida, aqueles que se esforçam para compreender o universo dessa “kobieta” confessam ser incapazes de fazê-lo. Isso provavelmente ocorre porque querem tentar entender o gênero feminino através do ponto de vista masculino. Não percebem que para apreender o real significado do que é ser mulher, precisam ir muito além dessa limitação imposta pela cultura patriarcal. Os homens que pretendem entender as mulheres devem antes de tudo considerá-las como seres humanos!
A capacidade de ter empatia com mulheres só virá através da desconstrução da visão patriarcal do mundo, e tal desconstrução nunca será levada a cabo se não houver profunda análise e crítica da dinâmica dessa cultura. Do contrário, os homens jamais entenderão o universo feminino. E quando nos utilizamos aqui da expressão “universo feminino”, é óbvio que não estamos usando como referência as características estereotipadas criadas pela cultura patriarcal que apenas entende a fêmea em “natural” oposição ao macho e sendo complemento deste último. Como foi dito antes, não se nasce apenas “fêmea” ou “macho”, nasce-se antes de tudo ser humano!
As mais diversas formas midiáticas de expressão tais como filmes, livros, revistas, etc. não cansam de brincar, muitas vezes de maneira pejorativa e visando diminuir as necessidades femininas, com a seguinte pergunta: “mas afinal o que querem as mulheres?”. Tal questão dá sempre a entender que as representantes do gênero feminino são muito complicadas, inconstantes e volúveis, e não há nada capaz de aplacar esse vulcão de ambigüidades... Porém, a compreensão seria muito mais fácil se os homens aceitassem que as mulheres são seres humanos exatamente como eles, com anseios, medos e esperanças, com as mais diversas capacidades, com vontades legítimas e com direitos tantos quantos os seus.
Quem disse que uma mulher deve se submeter a um homem? Quem valida atitudes machistas permitindo que as representantes do gênero feminino sejam espancadas, violadas, ofendidas em casa e na rua? Quem tem o direito de dizer a um ser humano que ele não serve para mais nada além de ser usado?
O que querem as mulheres? Querem respeito! Querem, exigem, serem vistas por outro prisma. É difícil para os homens? Há! Então eles que imaginem como deve ser passar séculos tendo que se deformar para tentar inutilmente se encaixar num padrão completamente artificial criado por homens que não entendem que o mundo não é só deles!
O gênero feminino é tão belo, inteligente e criativo quanto o masculino. Está nesse mundo desde o nascimento da humanidade e permanecerá nele até seu último suspiro. Não há humanidade sem a mulher - e isso não é dito pelo simples fato da procriação necessitar do corpo feminino, pois nem todas que se identificam com esse gênero são capazes de gerar a vida – ela sempre esteve e estará presente ao lado dos homens, seus companheiros de jornada nessa existência. Mas talvez já esteja mais do que na hora desses homens olharem para o lado e reconhecerem que não estão sós. Feito isso, é provável que muito da dor e do sofrimento desse mundo simplesmente deixe de existir, pois suas causas não terão mais lugar aqui.
domingo, 7 de março de 2010
Não há nada a fazer, nada a encontrar
A não ser aquecer-me sozinho.
Queimo meu corpo
Faço luz em volta de mim."
JUKICHI YAGI*
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*"There is nothing to be found,
even if I search.
There is nothing to do
but to warm myself on my own.
There is nothing to do but to burn my own body
and light the place around me"
JUKICHI YAGI
ANAMCHARA
CAMILLE CLAUDEL
Assim como Camille, todos nós mais cedo ou mais tarde sentimos a ausência de algo inidentificável. Tal falta nos atormenta veementemente. No entanto, como podemos ansiar por uma coisa que não conhecemos, que nem sabíamos possível existir, quanto mais que a havíamos perdido? O que seria essa ausência de algo que não se sabe o que é? E o pior, capaz de nos trazer um sentimento de dor “na alma”, uma dor espiritual que não cessa nem diminui. Muito pelo contrário, com o passar dos anos, se ousarmos não dar-lhe atenção, ela toma conta de todo nosso ser. Então, o que é isso, esse algo tão importante que nos falta?
Para os antigos celtas da Irlanda a existência era indescritivelmente mais difícil sem a presença de um “anamchara”, ou seja, de um “amigo da alma”, um confidente. Aquele com quem poderíamos contar nas horas difíceis, assim como nos momentos de extrema felicidade. A necessidade de ter alguém para partilhar as dores e alegrias desse mundo sempre nos levou a arriscar muito. E, se por ventura não encontramos uma pessoa honrada e verdadeira, corremos o risco de perder tudo, inclusive a nós mesmos. Quantos não se envolveram com o que acreditavam ser sua “alma gêmea” só para encontrar desolação e mais carência depois? Quem nunca depositou toda espécie de confiança em um amigo e se decepcionou? Porque sempre buscamos esse “algo que nos falta” em pessoas tão humanas quanto nós e, por isso mesmo, passíveis de falhas e imperfeições? Não que não devamos ter amigos e pessoas especiais às quais podemos partilhar nossas vidas e buscar orientação quando há inquietação e confusão. Mas quem sabe seria melhor seguir a orientação de Carl G. Jung quando diz que “quem olha para fora sonha; quem olha para dentro acorda”.
Consequentemente, não seria melhor buscar esse amigo dentro de nós mesmos? Quem saberia mais sobre nossos anseios do que o nosso “anamchara” interior? Que amizade poderia ser mais sagrada que aquela selada com nossa própria alma? Quanta coragem e humildade é preciso ter para parar de sonhar e finalmente acordar? Talvez não seja a vida quem nos magoa e nos parte o coração, quem sabe sejamos nós mesmos os responsáveis por todo o sofrimento que há sob a luz desse mundo...
sexta-feira, 5 de março de 2010
CELTIC OATH OF THE ELEMENTS
Until the earth opens up and swallows us
Until the seas arise and overwhelm us
Until it is the end for all of us
Yet it is only the beginning...
And fear doesn't belong here!
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
“Y GWIR YN ERBYN Y BYD”*
"Eu me revolto, logo existo!" alardeava Albert Camus.
Revoltar-se é uma atitude natural do ser humano. Se assim não o fosse, a humanidade nunca teria descido das árvores e ainda estaria comungando com a natureza sem tomar consciência de sua existência.
Pensar, criar e modificar são atos revolucionários que há milênios tem nos levado a não aceitarmos situações estagnadas e alienantes. “Sem crise, não há evolução” dizia Carl Jung, pois quando há crise, há descontentamento, indignação, revolta. Porém, a própria revolução pode carregar a semente da alienação. Quando não sabemos quem somos e não conhecemos as condições que nos cercam, mesmo atos heróicos podem facilmente levar a novas prisões. Atitudes revolucionárias por si só não garantem a plena libertação da alma, do indivíduo ou do grupo. É preciso antes libertar-se de pré-conceitos e de padrões arraigados e, acima de tudo, conhecer as causas e condições que encerram a questão, para então efetuar a derradeira revolução defendida por Krishnamurti: a revolução da mente!
*“A verdade contra o mundo” apregoavam os antigos celtas. É essa a única batalha a ser travada, a da verdade contra as distorções e ilusões da realidade que nos corrompem, desviam e desassossegam. Mais cedo ou mais tarde nos tornamos guerreiros que tem que enfrentar o pior dos inimigos: nós mesmos. Esse é o fardo e a salvação da humanidade, descobrir que o começo e o fim de tudo o que existe faz parte de nossa essência e que deve ser encontrado em nossos corações e transmutado em nossas mentes. “A verdade contra o mundo”, brada quem tem a Personalidade Tempestade!