quarta-feira, 21 de abril de 2010

Listen,
If I came to you, out of the wind
With only my blown dream clothing me,
Would you give me shelter?
For I have nothing
Or nothing the world wants.
I love you: that is all my fortune.

But I know we cannot sail without nets:
I know you cannot be exposed
However soft the wind
Or however small the rain.*

Michael Hartnett (1941-1999) - From Anatomy of a Cliché
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*Ouça,
Se eu chegar até você saído do vento
Vestido apenas com meu sonho soprado,
Você me acolheria?
Pois eu não possuo nada
Ou nada que o mundo queira.
Eu amo você: essa é toda a minha fortuna.

Mas eu sei que nós não podemos velejar sem redes:
Eu sei que você não pode ser exposta
Não importa quão suave seja o vento
Ou quão fraca a chuva.

domingo, 11 de abril de 2010

KOBIETA

A versão na língua polonesa para a palavra “mulher” foi escolhida como título desse texto porque para os latinos tal vocábulo eslavo é tão inextrincável quanto a verdadeira natureza do feminino. Poucos sabem realmente o que significa ser mulher. Sua essência é um mistério até mesmo para a maioria das representantes desse gênero e as que tem coragem de se conhecerem melhor acabam percebendo, como no antigo ditado chinês, que “o lugar mais sombrio da sala é justamente aquele embaixo da luz”.
Ninguém pode ser mais solitário que uma mulher que se descobre e que tenta por todos os meios se fazer ouvir, pois num mundo cuja cultura é completamente focada no ego masculino, torna-se impossível dar crédito aos movimentos do feminino. As idéias, ideais, necessidades e potencialidades de uma pessoa que não é reconhecida como homem, simplesmente deixam de ter relevância, pois foi condenada a ser um mero objeto desde o dia de seu nascimento. Um objeto a ser adorado, usado e descartado de acordo com as vontades do outro, no caso, o homem.
Em contrapartida, aqueles que se esforçam para compreender o universo dessa “kobieta” confessam ser incapazes de fazê-lo. Isso provavelmente ocorre porque querem tentar entender o gênero feminino através do ponto de vista masculino. Não percebem que para apreender o real significado do que é ser mulher, precisam ir muito além dessa limitação imposta pela cultura patriarcal. Os homens que pretendem entender as mulheres devem antes de tudo considerá-las como seres humanos!
A capacidade de ter empatia com mulheres só virá através da desconstrução da visão patriarcal do mundo, e tal desconstrução nunca será levada a cabo se não houver profunda análise e crítica da dinâmica dessa cultura. Do contrário, os homens jamais entenderão o universo feminino. E quando nos utilizamos aqui da expressão “universo feminino”, é óbvio que não estamos usando como referência as características estereotipadas criadas pela cultura patriarcal que apenas entende a fêmea em “natural” oposição ao macho e sendo complemento deste último. Como foi dito antes, não se nasce apenas “fêmea” ou “macho”, nasce-se antes de tudo ser humano!
As mais diversas formas midiáticas de expressão tais como filmes, livros, revistas, etc. não cansam de brincar, muitas vezes de maneira pejorativa e visando diminuir as necessidades femininas, com a seguinte pergunta: “mas afinal o que querem as mulheres?”. Tal questão dá sempre a entender que as representantes do gênero feminino são muito complicadas, inconstantes e volúveis, e não há nada capaz de aplacar esse vulcão de ambigüidades... Porém, a compreensão seria muito mais fácil se os homens aceitassem que as mulheres são seres humanos exatamente como eles, com anseios, medos e esperanças, com as mais diversas capacidades, com vontades legítimas e com direitos tantos quantos os seus.
Quem disse que uma mulher deve se submeter a um homem? Quem valida atitudes machistas permitindo que as representantes do gênero feminino sejam espancadas, violadas, ofendidas em casa e na rua? Quem tem o direito de dizer a um ser humano que ele não serve para mais nada além de ser usado?
O que querem as mulheres? Querem respeito! Querem, exigem, serem vistas por outro prisma. É difícil para os homens? Há! Então eles que imaginem como deve ser passar séculos tendo que se deformar para tentar inutilmente se encaixar num padrão completamente artificial criado por homens que não entendem que o mundo não é só deles!
O gênero feminino é tão belo, inteligente e criativo quanto o masculino. Está nesse mundo desde o nascimento da humanidade e permanecerá nele até seu último suspiro. Não há humanidade sem a mulher - e isso não é dito pelo simples fato da procriação necessitar do corpo feminino, pois nem todas que se identificam com esse gênero são capazes de gerar a vida – ela sempre esteve e estará presente ao lado dos homens, seus companheiros de jornada nessa existência. Mas talvez já esteja mais do que na hora desses homens olharem para o lado e reconhecerem que não estão sós. Feito isso, é provável que muito da dor e do sofrimento desse mundo simplesmente deixe de existir, pois suas causas não terão mais lugar aqui.