segunda-feira, 16 de maio de 2011

Priscila Jacewicz - Matka

INDEPENDÊNCIA

A idéia do que é ser "homem" ou "mulher" é muito mais uma construção cultural do que uma situação que vem previamente imposta pela natureza. A cultura patriarcal teima em "naturalizar" as características que criou para definir o que considera ser homem e mulher em nossa sociedade e simplesmente "esqueceu" que o ser humano, em suas infinitas subjetividades, está muito além do binômio macho-fêmea. De acordo com seus preceitos, tudo o que se encontra fora da norma ditada por essa cultura deve ser oprimido e negado. Sendo assim, seus seguidores clamam que algumas mulheres se tornaram "excessivamente independentes" ao tentarem transgredir tais normas, porém não conseguem ver que tal ânsia por independência sempre fez parte do nosso ser. No entanto, quando algumas de nós conseguem se sobressair nesse aspecto obviamente sentem-se um pouco sós, porque na cultura em que vivemos nunca foi criado um lugar seguro para as mulheres se expressarem de forma verdadeira, jamais se valorizou a mulher independente. Ao contrário, a partir do século XX apregoou-se que a mulher pode ser independente "o quanto quiser", mas DESDE QUE não esqueça de fazer o jantar do marido, de cuidar das crianças, de não envelhecer, de não ficar feia ou gorda, de não ser chata durante a TPM, etc. Nossa cultura diz que podemos "nos emancipar" até o ponto em que não tentemos abrir mão do nosso papel de objeto-utilitário-para-machos. Esse é o limite! Se por acaso alguma mulher resolve romper com tal papel obviamente ficará sozinha, pois ninguém vai apoiá-la. Imagine, querer ser mais que um objeto! Querer ter idéias, vontade própria, pensar, ser diferente... que audácia!!! Então dizem que ela é "excessivamente independente"... Precisamos construir um novo lugar para a mulher, mas não podemos construí-lo cerceando de cara a nossa liberdade, acreditando que não podemos ser excessivamente independentes. Poderemos ser independentes o quanto quisermos, mas para isso precisamos de apoio e acolhida e, principalmente, necessitamos que as mulheres entendam que realizar a si mesma não é crime, pois antes de sermos mulheres somos seres humanos e temos tanto direito quanto os homens de nos expressarmos da forma que quisermos: tendo filhos, não tendo filhos, trabalhando feito louca naquilo que gostamos, ficando sós se nos aprouver, amando homens, amando mulheres, nos revoltando contra injustiças, incentivando nossas amigas, e principalmente, mostrando aos homens que eles não tem nada a perder com nossa independência. Muito pelo contrário, tem a ganhar pois assim talvez eles também criem coragem de descobrir verdadeiramente quem são para se realizarem plenamente e não apenas ficarem presos num papel do qual nem eles gostam mais.